sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Pilantragem Editorial: O Desencanto dos Novos Autores.



A escritora Geyme Lechner Mannes e eu fizemos este texto há algum tempo, mas como ele continua absurdamente atual e os impropérios e falcatruas só fizeram se multiplicar desde então, decidi publicá-lo aqui, para quem ainda não conhece. Nunca é demais alertar:
Novos autores, CUIDADO com as editoras que publicam por demanda! 


Escrever um livro vai muito além de contar uma história. Escrever envolve processos íntimos e profundos, perseverança, paciência. Para cada livro escrito há vários milhares que não passam da primeira página ou que ficam pela metade. Nem todo mundo que pensa em escrever ou começa a fazê-lo consegue terminar o que iniciou, não porque lhes falte inspiração, mas porque lhes faltam a constância e a determinação necessárias para que o projeto chegue ao final. Este texto não é para estas pessoas, embora elas possam achá-lo interessante. Este texto é para aqueles que, após iniciarem seu livro, conseguem terminá-lo e se vêem com uma obra em mãos, sem saber direito como torná-la algo físico, com capa, contracapa e orelhas. Algo que outras pessoas comprarão, levarão para casa e passarão horas  lendo. Como sair do texto pronto, porém ainda não nascido, para algo concreto chamado livro? Como fazer a obra chegar às mãos dos leitores? Como conseguir uma editora que transforme o sonho em realidade?
Boom do novo milênio, para aqueles que estão envolvidos de toda e qualquer forma com o mercado editorial, trouxe um centenar de novos escritores e, como conseqüência, o surgimento de novas editoras para atender a este público que a cada dia se multiplica. Dispondo de um leque de promessas mirabolantes distribuídas por sites que estampam ares profissionais, este caleidoscópio editorial surge para muitos autores novos como a varinha de condão que transformará suas vidas, que fará deles escritores populares e de seus livros, sucessos de venda. É aí que mora o perigo.
Sem experiência e na pressa de ver seus livros publicados, muitos autores desistem de entrar na longa fila de espera das editoras que PAGAM por seus profissionais e migram para a curta fila daquelas que COBRAM para publicar.
A associação que fazemos ao ouvir as promessas e ler os contratos das editoras que publicam sob demanda, é a mesma de funerárias, ou seja: os familiares que enterram seus entes estão dispostos a pagar valores exorbitantes pelo enterro dos seus, assim como os novos escritores a pagar pelo nascimento de suas obras. As funerárias tanto conhecem a vulnerabilidade de seus clientes quanto às novas editoras a dos seus autores, e aqui, enquanto o lado capitalista está disposto a explorar a situação até o ultimo centavo, o outro está disposto a pagar até o ultimo centavo para que o serviço proposto seja feito. Sim, paga-se caríssimo pra nascer, pra casar, pra morrer, e claro, para publicar o próprio livro!
Sem querer apedrejar as novas editoras ou formular uma cartilha para autores iniciantes, deixamos o alerta:
Tem editora oferecendo mundos e ENTREGANDO APENAS OS FUNDOS.
No contrato dessas empresas “realizadoras de sonhos”, o escritor encontra um arsenal completo para transformar o abstrato em concreto: divulgação, vendas, pagamento de direitos autorais acima do mercado, assessoria pós-publicação. Mas o resultado final é um livro mal impresso, de qualidade questionável, erros grotescos, preço final de venda altíssimo, inacessibilidade ao leitor e nenhuma assistência.
Foram incontáveis os livros que recebemos, publicados recentemente por essa nova geração de parceiros (escritores e editoras), onde encontramos erros não apenas de digitação, mas de andamento de texto, pobreza de argumentos, falta de aprofundamento de trama, evidenciando que ali faltaram revisão e a mão do editor. Para que fique claro, é função do editor trabalhar o texto junto ao autor de forma que o livro ganhe melhores contornos e fique mais rico. Também é função do editor recusar um texto por achá-lo ainda imaturo ou superficial, assim como é função também, auxiliar o autor a melhorá-lo. Isso faz um bom editor que PAGA pelo texto, uma vez que seu lucro virá da venda do livro, coisa que nas publicações por demanda fica relegada, na maioria das vezes, a plano nenhum, porque este já RECEBEU o seu quinhão.
Quanto à questão da preparação de texto e correção, é certo que um escritor não é  necessariamente um mestre em Português, idioma complicadíssimo e cheio de detalhes, mas um “fabricador” de estórias. É função da editora oferecer uma correção de qualidade superior, um revisor em carne e osso por detrás desses ineficazes “corretores” ortográfico-gramatical de computadores.
A triste verdade por trás das promessas encantadas, é que muitas editoras sequer conhecem as obras que publicam! Isso sem falar ainda, daquelas que prometem distribuição, internacionalidade e agenciamento literário, vendendo o slogan de que foram criadas para “tornar possível o sonho do autor”. MENTIRA! Elas foram criadas para gerar lucro, e aqui, nada contra o ganho destas, afinal, uma editora não é uma entidade filantrópica, mas uma empresa como outra qualquer. Porém, cuidado com a pilantragem desses falsos Messias que não cumprem suas promessas e deixam o dever de casa pela metade.
O mundo editorial, hoje, precisa de MAIS editores comprometidos e MENOS picaretas! Não adianta ter uma produção literária enorme sem qualquer qualidade, sem substância, sem critério. Isso não vai alavancar ou estimular a literatura nacional, só vai servir para engordar as contas bancárias dos autores internacionais, estes sim, vindos de editoras que realmente investem em suas obras, e continuar dando a eles os primeiros lugares nas vendas, nas listas, nos holofotes.
É claro que não há editoras com a faca no pescoço de ninguém, obrigando fulano ou beltrano a publicar aqui ou acolá. São os clientes quem a escolhem! Mas fica a dica:
Ao contratar uma editora, não se apresse! Pesquise nome, as referencias, outras publicações, fale com escritores promulgados pela mesma, indague, exija e usufrua de cada cláusula, uma vez que você é o cliente e tem
o direito! E tenha em mente que ninguém fará sucesso do dia para noite, há um caminho a ser trilhado e, a menos que você seja muito influente ou tenha excelentes conexões, você vai ter que passar por ele! Não se deixe levar por pessoas que incham seu ego, não seja presa de sua própria vaidade! Não permita que esta pilantragem de muitos milhares de reais, engula você também.
E lembre-se: Você acha que não vive sem eles, mas na verdade são eles que não sobrevivem sem você!



Desejamos sorte e sucesso pra todos que estão começando agora!
Beijos,
Laura Elias & Geyme Lechner

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre os Escritores e Seus Textos

Maria jogou-se na cama e começou a chorar a raiva e a frustração que sentia, ainda segurando a carta nas mãos. Há alguns meses tivera uma linda ideia para um livro. Corajosa - pois é necessário coragem para embarcar nessa jornada - dedicou-se com afinco ao seu livro. Persistente - pois é preciso muita persistência para concluir o projeto - finalmente terminou a história. Cheia de entusiasmo e sonhos, com a alma leve, começou a enviar o texto para todas as editoras possíveis e imagináveis. Em seus devaneios, via-se em noites de autógrafos cheias de gente ávida para conhecê-la, com longas filas se formando em frente à mesa onde, ela - a escritora de sucesso - autografaria os exemplares com muitos sorrisos e simpatia. Todos os dias verificava a correspondência, esperando cheia de ansiedade pela resposta de sua primeira editora. E todos os dias sentia o entusiasmo diminuir, as esperanças murcharem um pouco. Nada. Nem uma carta dizendo "recebemos seu original e iremos analisá-lo". Sem saber direito o que fazer, apelou para a internet. Abriu um blog com o título do livro e nele começou a postar seus textos. Os amigos e conhecidos a incentivavam e lhe diziam que a história era ótima, que ela escrevia muito bem, que tinha tudo para ser uma campeã de vendas. Recados deixados após as postagens elogiavam sua forma magnífica de escrever, diziam que se ela publicasse comprariam o livro e mais uma infinidade de coisas que adoçavam seu coração e seu ego. Enquanto isso, o tempo passava e nada de carta das editoras. Um belo dia Maria encontrou, entre os comentários do blog, o recado de Joana, que se apresentou a ela como avaliadora de textos, deixando um endereço de contato. Maria entrou em contato, enviou seu texto para análise e foi justamente a resposta de Joana que a fizera jogar-se na cama e chorar com amargura.
  Seu texto - dizia a carta - carece de coerência e os personagens carecem de profundidade. Há muitos erros e repetições de palavras, as situações estão mal explicadas e a história deixa muitas pontas soltas. As frases estão mal colocadas e os diálogos se apresentam de forma incoerente com o perfil dos personagens. A ideia, porém, é boa e eu lhe aconselho a reler o texto e a reescrevê-lo tendo em conta as observações feitas acima.

Atenciosamente,
Joana.

No primeiro momento, Maria quis morrer de catapora. No segundo, quis matar Joana enforcada. Aquela mulher sem rosto, a quem apenas conhecia pelas palavras, havia acabado de sepultar seu texto, seus sonhos e sua brilhante carreira de escritora mundialmente conhecida. E Maria nunca mais escreveu uma linha...

Joana foi cruel ou foi verdadeira? Ela estava com razão nas observações feitas ou havia escolhido Maria para cristo e a crucificado sem razão? Maria jamais soube, pois a desilusão foi maior do que sua vontade de escrever e ela largou os sonhos pelo caminho.

Analisando as duas personagens deste pequeno trecho, tenho certeza absoluta que as opiniões vão se dividir. Muitos acharão Maria uma boba sonhadora e muitos outros, Joana uma megera sem alma. E ambos estarão certos e ambos estarão errados.
Todo escritor é um sonhador ou não seria escritor, aquele ser que dá voz e forma aos sonhos de sua imaginação. Por outro lado, um avaliador de textos existe para fazer exatamente aquilo que o nome diz: avaliar textos e apontar as falhas, os pontos fracos e as incongruências de um texto.
Maria foi vitima de suas expectativas, Joana de sua falta de tato. Maria reagiu de forma extrema, abandonando o que poderia ser uma carreira de muito sucesso por incorrer em um erro muito comum: confundiu-se com sua obra e levou para o lado pessoal a impessoal análise de Joana. Já esta última, por sua vez, limitou-se a expressar de forma resumida seu parecer, sem indicar à Maria quais ferramentas usar para reconstruir o texto e os sonhos. Não lhe ofereceu exemplos, não lhe ofereceu suporte.

Começar uma carreira na área literária requer paciência e humildade suficiente para reconhecer as próprias limitações. Todos os escritores, principalmente os mais consagrados, passaram pelo mesmo processo que Maria e tiveram seus textos modificados, reestruturados, remendados. Receberam críticas atrozes, foram subestimados, descartados e pensaram em desistir. Faz parte da profissão saber lidar com isso e saber até que ponto aquilo que lhe é dito corresponde à realidade. Saber admitir que precisa melhorar e que pode melhorar, querer de tal forma concretizar os sonhos que aceita os desafios que aparecem e os supera, sempre investindo, sempre buscando. Ninguém nasce sabendo tudo. As pessoas nascem com talentos potenciais. Lapidá-los, aprimorá-los e torná-los o melhor possível é da responsabilidade de cada um.
O texto de Maria era realmente ruim? Seus personagens eram insubstanciais e sua escrita cheia de erros? Nós jamais saberemos porque ela ficou pelo caminho. Ela desistiu.
Não desista! Invista em seu sonho, em seu livro, em sua imaginação criativa. Há bilhões de pessoas neste mundo e muitas delas podem estar, neste exato momento, esperando pelo texto que você vai escrever. Quer ajuda? Estou aqui para isso. Não posso garantir editora ou venda, mas posso ajudá-lo a chegar ao seu melhor, a produzir melhores textos, indicar-lhe caminhos, livros, filmes, exercícios criativos e muitas outras ferramentas que irão dar-lhe suporte para melhorar a qualidade de suas obras.

Boa sorte!